domingo, 23 de outubro de 2011

Pineapple Express

Os últimos clientes insistiam em não ir embora, já não tinha como chegar no compromisso. Comecei a notar possibilidades de misturas, quando o patisserie veio e me trouxe um creme inglês a base de leite, ovos e especiarias. Ai foi o que faltava pra completar o caos que se tornou a folha em que anotava as varias receitas.

Após alguns testes, surge o Pineapple Express:


4 cl de Tanqueray Dry Gin
1 fatia de abacaxi
1 pitada de pimenta do reino
2 cl de Creme inglês feito na casa
1 ramo de alecrim


Gele uma taça flutê e reserve. Na coqueteleira sem gelo macere a fatia de abacaxi junto com o creme inglês, adicione gelo e os outros ingredientes. Faça o "shake" com vontade. Retire o gelo da taça e coe o coquetel duplamente. Guarneça com abacaxi e sirva.
Enjoy.

terça-feira, 10 de maio de 2011

RULE BRITÂNIA


- 3.0 cl de Campari
- 3.0 cl de compota de amora.
- 6.0 cl de Vodka.


Bata todos os ingredientes na coqueteleira e sirva numa taça previamente gelada com uma pedra de gelo.
Corpo, alcool, doce e amargo na dose certa para abrir o apetite antes de uma refeição.
Tenta.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vodka Martini





- 7.0 cl Pravda Premium.
- 1.0 cl Pure Water.
- 0.5 cl Noilly Prat
- 1.0 zest de limão siciliano.


A água serve pra quebrar a vodka, o Noilly Prat mantém a secura característica "martiniana" e o zest de limão completa a acidez desse aperitivo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Sonho.

A porta foi aberta exatamente quatro e três da manhã, o que significava que eram três e quarenta e oito, esses quinze minutos já não enganam mais ninguém. As pernas latejavam e o pulmão já não era mais o mesmo e não aguentava uma pedalada tão intensa. A água da torneira nunca teve um sabor tão marcante e refrescante como nesse dia. Sentado na mesa esvaziando os bolsos uma garrafa pela metade, no rótulo El Sueño, havia servido de 'esquenta' a outros. O primeiro gole foi descompromissado, um tanto irresponsável, só para tirar a secura que voltava aos poucos junto com o fôlego. A taça veio até o nariz quase que instintivamente, notas de torrefação, não muito amadeirado, ainda sabia distinguir certos aromas. - “onde diabos está meu 'moleskine'? - a cor intensa e purpura com halos violáceos inebriava, o primeiro ataque ao nariz agora mais atento era intenso sem ser enjoativo. O gole antes irresponsável agora preenchia a boca e animava o espirito cansado, atropelado por 280 pessoas desesperadas por diversão e bons tragos. A região era uma velha conhecida, Colchagua Valley, o ano era o mesmo que pela primeira vez entrara num balcão para servir. Aquele ano de 2006 implicou muitas mudanças, uma nova cidade, uma nova vida e tudo agora sendo encarado sozinho, assim, sem ninguém. A cepa outra figurinha carimbada, carmenere. A cabeça outrora quente e revoltada agora estava tranquila como a rua lá fora, apenas esperando o último gole e o primeiro bocejo, para só assim começar a sonhar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vinho e Guerra.



Minha mais nova aquisição. O ritmo é empolgante e não consigo parar de lê-lo. Escrito pelo casal americano Don & Petie Kladstrup. Traz um lado da guerra diferente. Homens  que além de lutar pela sua nação e familia, deram a vida pelo símbolo maior de seu povo, o vinho.

Traz relatos de como o centenário La Tour D'argent emparedou sua adega para não ser saqueada. Donos de imponentes 'chateaux' abandonando seus lares para se encaminhar ao front. imperdível.

Segue uma entrevista da Carta Capital com os autores.

"Os Kladstrup falam sobre a política de Hitler e a dificuldade, ainda hoje, de abordar o tema da colaboração de franceses com o nazismo.

CartaCapital: Por que, na sua opinião, nenhum historiador francês escreveu um livro similar antes?
Don & Petie Kladstrup: Muitos de nossos amigos franceses já fizeram a mesma pergunta e a resposta pode ser muito simples. Às vezes é necessário um olhar estrangeiro para reconhecer uma boa história. Somos americanos. A história de como a França tentou proteger seus vinhos dos nazistas praticamente pediu para ser contada. Tivemos sorte por poder fazer isso.
CC: Só isso?
D&PK: Provavelmente existe outra razão pela qual ninguém na França contou essa história. Ela envolve assuntos sensíveis como a colaboração com o inimigo. Um dos capítulos lida com Louis Eschenauer, um proeminente vendedor de Bordeaux, condenado justamente por ter colaborado com os nazistas. Mesmo hoje, muitos na França ainda se sentem desconfortáveis em discutir a colaboração, preferindo acreditar que todos os franceses resistiram. "Deixem os mortos dormir em paz e os vivos viver em paz", nos disse um negociante de Bordeaux.
CC: Os senhores acham que, se Hitler apreciasse vinho, o prejuízo causado pelos nazistas aos produtores franceses teria sido maior?
D&PK: Não. Em primeiro lugar, Hitler e os nazistas entenderam que a indústria vinícola francesa era como uma jóia preciosa e tinha de ser protegida. Uma riqueza imensa estava em jogo. Era do interesse do Terceiro Reich assegurar que as vinícolas francesas e os vinhedos permanecessem intactos. A maioria dos danos - a pilhagem e os saques - que ocorreram aconteceu nos primeiros dois ou três meses da ocupação, antes que as autoridades alemãs, incluindo os weinführers, restaurassem o controle.
CC: O livro pode passar a impressão de que houve mais coragem do que covardia durante a ocupação alemã na França. Os senhores concordam com isso?
DPK: Sim, e achamos que muitos historiadores concordariam. Logo depois da guerra, numa tentativa de unir o país, Charles de Gaulle quis passar a noção de que todos os franceses resistiram. Isso, é claro, era falso, como mostrou o historiador Robert Paxton. Agora, no entanto, o pêndulo se move na outra direção. Enquanto só uma minoria lutou na Resistência, muitos tomaram parte no que os historiadores chamam de resistência passiva: "acidentalmente" derrubando a garrafa de vinho de soldados alemães ou usando roupas nas cores azul, branca e vermelha da bandeira francesa (o que foi banido pelos alemães).
CC: A imagem que os senhores passam de dois dos weinführers é quase simpática.
DPK: Admitimos que a imagem de Heinz Bömers e Adolph Segnitz parece quase simpática. A intenção, no entanto, não foi a simpatia, mas a precisão. Abordamos a história dos dois weinführers com grande ceticismo. As investigações pós-guerra de Bömers e Segnitz revelaram que nenhum dos dois tinha feito algo de errado e que ambos poderiam continuar com o seu negócio de importação de vinhos franceses. Bömers, aliás, instruiu a sua secretária para que não queimasse seus papéis, facilitando o trabalho dos investigadores que determinariam o que ele fez ou deixou de fazer.
CC: Uma pergunta pessoal: que tipo de vinho os senhores apreciam mais?
DPK: O que nos dá o maior prazer é um bom Borgonha. Em segundo lugar, viria um dos grandes vinhos doces do Loire, como uma garrafa de Vouvray de 1947, que Gaston Huet, um dos personagens do livro, dividiu conosco um dia."

"Uma riqueza imensa estava em jogo."
Mauricio Stycer, CartaCapital, #187, 01/05/2002


"Um dos livros mais interessantes já escritos sobre vinhos(...) É um livro para se apaixonar pela perseverança e amor dos vinhateiros franceses. Imperdível para sua biblioteca."
Ricardo Castilho, "Estante do Gourmet" - Gula, #116, Ano 10 - Junho/200

Chapei, Inté!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Bloody Mary Babe!

Bloody Mary Babe.
O começo de semana normalmente é peculiar. Os melhores clientes aparecem durante a semana, fugindo do caos de uma sexta-feira ou do movimento exacerbado de um sábado. Normalmente você raciocina o seu estoque e passa as horas limpando, organizando e equipando o bar para os dias onde sorrir é mecânico e segundos são preciosos.

Em uma segunda-feira qualquer preparei um bloody mary.

Coquetel a base de suco de tomate temperado e vodca. Dois grandes amigos prometeram bebê-lo em todo bar que entrassem para ter um parâmetro do que estava sendo feito no querido balcão que lustrava.
Frases jogadas se misturaram a receitas, ócio e lembranças de uma professora de história que não se dava ao luxo de controlar uma sala, falava calmamente com um tom sereno que era absorvido apenas por ouvidos interessados.
Mary Pickford.
Ao requisitar o G.O.G (essa querida ferramenta detentora das verdades terrenas) enquanto ouvia G.O.G (Mc brasiliense com uma sensibilidade poética intrigante) achei fotos de uma rainha inglesa cruel, perseguidora de hereges que adorava uma muvuca e uma guilhotina, além de alusões há uma famosa garçonete do bar “bucket of blood” de Chicago e uma referência à Mary Pickford, atriz americana do cinema mudo (lançada em 1930 por David Griffit, trabalhou em cerca de 200 filmes, ao lado de Chaplin fundou a United Artists e de quebra levou o oscar de melhor atriz em 1930).

Fernand Petiot do Harry's 'New Yourker' Bar de veneza, toma pra si a criação na década de 20 e vai além. Diz que só adicionou tabasco a pedidos do príncipe russo Serge Obolensky.

Na década de 30 aparece um novo criador (com menos defensores) chamado Bertin Azimont, do hotel Ritz de paris, que criou o coquetel a pedido de, ninguém menos que Ernest Hemingway (esse é pressente na coquetelaria tanto quanto na literatura), que por sua vez queria uma mistura que não deixasse cheiro para que assim não tivesse que dormir na sala quando desse de frente com a esposa.

Segundo a I.B.A a receita é a seguinte:


  • 4,0 cl de Vodca

  • 10 cl de suco de tomate

  • 1.0 cl de suco de limão

  • Temperos: sal de aipo, Tabasco, molho inglês, pimenta do reino.

  • Método: montado.

  • Copo: long drink

  • Guarnição: talo de salsão, talo de cenoura ou limão.



Rainha I da Inglaterra.
Os mais radicais adicionam todos os temperos antes, fazendo uma mistura escura, devido ao molho inglês, dizendo que primeiro se faz a parte negra, uma referência a macabra e sanguinária rainha, e depois é que  começamos a parte boa da pequena obra de arte.

Numa dessas segundas ociosas e paradas fui a cozinha e vi algo que mudaria aquela semana.

Estava na minha frente o ágar-ágar, um hidrocolóide extraído de algas, muito comum na culinária 'vegan' para a obtenção de novas texturas.

Feita as devidas proporções (agradeço o Will que foi muito paciente comigo apesar de ter na frente uma produção absurda) o sangue de maria não foi mais o mesmo.

Obter o caviar foi difícil, aconselho molhá-lo com vodka para concentrar o sabor.

Eles explodem na boca enquanto se fundem com o suco de tomate, causando um momento único.

Uma cliente uma vez me disse: - isso está tão bom que posso até mastigá-lo - muito bem mastigue esse coquetel.

Caviar de Vodka com suco de tomate temperado.


São nesses dias em que tudo parece chato e insosso que não podemos deixar passar pequenas coisas, muito menos gestos simples.

Enjoy.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

À White Lady.

Mudança feita, os livros fora da caixa. Tudo parece de novo entrar nos eixos. Quando sua vida cabe numa mochila coisas engraçadas acontecem. Ao desempacotar relicários, pertences e tranqueiras você acha coisas que havia esquecido (como um roteiro que ousei escrever com 14 anos, ele só tem quatro páginas, mas a intenção era boa, apesar das limitações e do vasto conhecimento de três dentro três fora, linha, rabiola com chicote, colégio, hardcore e chaves), além de perder coisas das quais nunca se esqueceu (como um querido cd do Reffer – interference, é claro que num mundo idiota e globalizado o achei em mp3 mas o apego ao cd e o valor artístico agregado pesam).O abandono desse blog não é um abandono da escrita mas apenas uma falta de inspiração que insistiu em perdurar. Onde achar inspiração? E ela veio. “ela vem toda de branco...”.

Então tá vamos lá. Vou tentar fazer aqui com que duas grandes paixões se fundam numa alquimia. Como um grande coquetel. Misturar um aperitivo com as primeiras histórias do cinema não é fácil.

O ano: 1921
O filme: “The lucky dog”
Os caras: “Oliver Hardy e Steve Laurel”
A cena: após ambos atuarem separadamente em diversos curtas, ainda mudos naquela época, pela primeira vez trabalham juntos. Já haviam trabalhado com grandes nomes como Chaplin (laurel chegou a substitui-lo em dois filmes por doença do anterior, ou quem sabe era ressaca mesmo).
“Babe” Hardy, que ganhou esse apelido de um barbeiro italiano do harlem, era americano e de passado glorioso na Virginia, sua família chegara naquela região em 1963. abandonou o sonho dos pais de estudar leis e se apegou ao teatro.
Laurel era inglês e filho de artistas, um duro com sensibilidade. Após reconhecimento no teatro desembarcou na América com a intenção de se juntar com a rapaziada do cinema.
Ainda não se localizou? Estou falando de uma dupla que por aqui ficou mais conhecida como “O Gordo e o Magro”, em Portugal eram conhecidos como “o Bucha e o Estica”, coisas da terrinha (nossos queridos irmãos do bigode saliente produzem vinho no vale do 'pintão' e tem uma vinícola chamada “quinta da rapariga”) não da pra discutir muito.
Após anos de trabalho, juntos ao todo foram: 110 filmes, entre curtas, médias e longas, uma turnê europeia (teatro), três casamentos e dois filhos para Laurel ( o magro), quatro casamentos para Hardy ( o gordo). E uma história, se me permitem uma coloquialidade, cabulosa, é a de Laurel. Primeiro quando “Babe” Hardy faleceu em 7 de agosto de 1957, Laurel não compareceu ao funeral por causa do trabalho, amigos próximos dizem que ele nunca mais foi o mesmo após a morte do amigo, que se confirma devido à um sumiço e nunca mais atuar em nenhum filme, dedicou-se o resto da vida como escritor de comédias. A segunda é que reza a lenda que Laurel é pai de Clint Estwood (esse mesmo que você tá pensando) do casamento com Virginia Ruth Rogers. Clint diz que é e não é verdade (a va, ou é ou não é meu) mas que essa lenda sempre ressurge após um tempo o próprio confirma.

O Nome: White lady.
O Ano: desconhecido.
O Criador: Desconhecido.
A Cena: A cena é que esse coquetel não tem passado, que dificuldade encontrar informações sobre ele, até organizações de respeito como a ABB (associação brasileira de bartenders) e o IBA (international bartenders association) não possuam informações o suficiente, uma vergonha pra quem se dedica tanto para fazer parte desse medíocre e seleto grupo de bartenders.

As informações sobre a “dama de branco” ficaram perdidas na memoria, pura história oral. Que precisa ser documentada. Sobrou sua receita.
  • 4,5 Cl (centilitros) de Gin.
  • 2,25 Cl de Cointreau.
  • 2,25 Cl de suco de limão.
Esse coquetel que pertence ao grupo dos sours ( coquetéis curtos a base de limão e clara de ovo), batido e servido numa taça curta previamente gelada. Sem guarnição.


A escola europeia adiciona clara de ovo liquida, o que da uma textura única. A escola americana abomina clara de ovo, devido a dificuldade de se manipular tal insumo. É possível achar clara de ovo em pó, porém isso encarece o coquetel o que o torna inviável, já que brasileiro adora um chorinho ( e eu não to falando da bela musica brasileira que tem exemplares como “carinhoso”, onde a afinação em ré transmite - uma tristeza que balança-, uma frase que gostaria de ter escrito, porém Vinicius de Morais foi mais ligeiro). Essa história de chorinho é a tipica frase que a classe odeia ouvir, entre tantas, que diga-se de passagem merece um texto.

As informações recolhidas sobre esse coquetel são: um cardápio datado 1861, e as conversas com um grande cliente fascinado por balcão, uma enciclopédia humana e ainda por cima com carisma e humildade. Que transformava o bar no que ele realmente é um reduto de contos e distração.

Você deve estar se perguntando qual a ligação com um coquetel tão antigo e uma dupla do cinema mudo. O que os une é um fato que aconteceu em 1924 em um contrato assinado pelo gordo e vistoriado de perto pelo magro com a Hal Roach Studio, onde um dos termos era produzir doze filmes. Mas um termo que mais chamou a atenção foi um estipulado pela dupla e que não podia de forma alguma ser contestado. Durante o contrato no camarim não podia faltar Gim, cointreau e Limão (lime no caso deles, um limão com menos acidez e de casca amarela, aqui, vulgarmente, conhecido como lima).

Ai está o combustível de uma obra, vasta, incrível e definitivamente atemporal, com uma veia social latente e instigante , que pode parecer inocente atualmente, mas que com certeza estará viva a muitas copas.

Um coquetel onde os mais eruditos dirão:

  • Que buquê complexo.
  • E o sabor é rico.
Eu diria que esse coquetel possui cheiro e gosto.
Na noite de sexta-feira, passada, tive a oportunidade de sentir o cheiro e provar o gosto da dama de branco. Foi fugaz, e não fugazi, como todo grande coquetel curto deve ser.
Talvez com o tempo esse gosto se perca, mas tenho a certeza que lembrarei dele e irei sorrir quando desempacotá-lo-ei numa outra mudança.