segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Sonho.

A porta foi aberta exatamente quatro e três da manhã, o que significava que eram três e quarenta e oito, esses quinze minutos já não enganam mais ninguém. As pernas latejavam e o pulmão já não era mais o mesmo e não aguentava uma pedalada tão intensa. A água da torneira nunca teve um sabor tão marcante e refrescante como nesse dia. Sentado na mesa esvaziando os bolsos uma garrafa pela metade, no rótulo El Sueño, havia servido de 'esquenta' a outros. O primeiro gole foi descompromissado, um tanto irresponsável, só para tirar a secura que voltava aos poucos junto com o fôlego. A taça veio até o nariz quase que instintivamente, notas de torrefação, não muito amadeirado, ainda sabia distinguir certos aromas. - “onde diabos está meu 'moleskine'? - a cor intensa e purpura com halos violáceos inebriava, o primeiro ataque ao nariz agora mais atento era intenso sem ser enjoativo. O gole antes irresponsável agora preenchia a boca e animava o espirito cansado, atropelado por 280 pessoas desesperadas por diversão e bons tragos. A região era uma velha conhecida, Colchagua Valley, o ano era o mesmo que pela primeira vez entrara num balcão para servir. Aquele ano de 2006 implicou muitas mudanças, uma nova cidade, uma nova vida e tudo agora sendo encarado sozinho, assim, sem ninguém. A cepa outra figurinha carimbada, carmenere. A cabeça outrora quente e revoltada agora estava tranquila como a rua lá fora, apenas esperando o último gole e o primeiro bocejo, para só assim começar a sonhar.

Um comentário:

  1. hehehehehe
    esse vinho só tem um problema, na minha opinião, que fique bem claro. carmenère.
    gosto é gosto.

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