Minha mais nova aquisição. O ritmo é empolgante e não consigo parar de lê-lo. Escrito pelo casal americano Don & Petie Kladstrup. Traz um lado da guerra diferente. Homens que além de lutar pela sua nação e familia, deram a vida pelo símbolo maior de seu povo, o vinho.
Traz relatos de como o centenário La Tour D'argent emparedou sua adega para não ser saqueada. Donos de imponentes 'chateaux' abandonando seus lares para se encaminhar ao front. imperdível.
Segue uma entrevista da Carta Capital com os autores.
"Os Kladstrup falam sobre a política de Hitler e a dificuldade, ainda hoje, de abordar o tema da colaboração de franceses com o nazismo.
CartaCapital: Por que, na sua opinião, nenhum historiador francês escreveu um livro similar antes?
Don & Petie Kladstrup: Muitos de nossos amigos franceses já fizeram a mesma pergunta e a resposta pode ser muito simples. Às vezes é necessário um olhar estrangeiro para reconhecer uma boa história. Somos americanos. A história de como a França tentou proteger seus vinhos dos nazistas praticamente pediu para ser contada. Tivemos sorte por poder fazer isso.
CC: Só isso?
D&PK: Provavelmente existe outra razão pela qual ninguém na França contou essa história. Ela envolve assuntos sensíveis como a colaboração com o inimigo. Um dos capítulos lida com Louis Eschenauer, um proeminente vendedor de Bordeaux, condenado justamente por ter colaborado com os nazistas. Mesmo hoje, muitos na França ainda se sentem desconfortáveis em discutir a colaboração, preferindo acreditar que todos os franceses resistiram. "Deixem os mortos dormir em paz e os vivos viver em paz", nos disse um negociante de Bordeaux.
CC: Os senhores acham que, se Hitler apreciasse vinho, o prejuízo causado pelos nazistas aos produtores franceses teria sido maior?
D&PK: Não. Em primeiro lugar, Hitler e os nazistas entenderam que a indústria vinícola francesa era como uma jóia preciosa e tinha de ser protegida. Uma riqueza imensa estava em jogo. Era do interesse do Terceiro Reich assegurar que as vinícolas francesas e os vinhedos permanecessem intactos. A maioria dos danos - a pilhagem e os saques - que ocorreram aconteceu nos primeiros dois ou três meses da ocupação, antes que as autoridades alemãs, incluindo os weinführers, restaurassem o controle.
CC: O livro pode passar a impressão de que houve mais coragem do que covardia durante a ocupação alemã na França. Os senhores concordam com isso?
DPK: Sim, e achamos que muitos historiadores concordariam. Logo depois da guerra, numa tentativa de unir o país, Charles de Gaulle quis passar a noção de que todos os franceses resistiram. Isso, é claro, era falso, como mostrou o historiador Robert Paxton. Agora, no entanto, o pêndulo se move na outra direção. Enquanto só uma minoria lutou na Resistência, muitos tomaram parte no que os historiadores chamam de resistência passiva: "acidentalmente" derrubando a garrafa de vinho de soldados alemães ou usando roupas nas cores azul, branca e vermelha da bandeira francesa (o que foi banido pelos alemães).
CC: A imagem que os senhores passam de dois dos weinführers é quase simpática.
DPK: Admitimos que a imagem de Heinz Bömers e Adolph Segnitz parece quase simpática. A intenção, no entanto, não foi a simpatia, mas a precisão. Abordamos a história dos dois weinführers com grande ceticismo. As investigações pós-guerra de Bömers e Segnitz revelaram que nenhum dos dois tinha feito algo de errado e que ambos poderiam continuar com o seu negócio de importação de vinhos franceses. Bömers, aliás, instruiu a sua secretária para que não queimasse seus papéis, facilitando o trabalho dos investigadores que determinariam o que ele fez ou deixou de fazer.
CC: Uma pergunta pessoal: que tipo de vinho os senhores apreciam mais?
DPK: O que nos dá o maior prazer é um bom Borgonha. Em segundo lugar, viria um dos grandes vinhos doces do Loire, como uma garrafa de Vouvray de 1947, que Gaston Huet, um dos personagens do livro, dividiu conosco um dia."
"Uma riqueza imensa estava em jogo."
Mauricio Stycer, CartaCapital, #187, 01/05/2002
"Um dos livros mais interessantes já escritos sobre vinhos(...) É um livro para se apaixonar pela perseverança e amor dos vinhateiros franceses. Imperdível para sua biblioteca."
Ricardo Castilho, "Estante do Gourmet" - Gula, #116, Ano 10 - Junho/200
Chapei, Inté!
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